sábado, 11 de dezembro de 2010

Lírica Camoniana

De quantas graças tinha, a Natureza
Fez um belo e riquíssimo tesouro,
E com rubis e rosas, neve e ouro,
Formou sublime e angélica beleza.

Pôs na boca os rubis, e na pureza
Do belo rosto as rosas, por quem mouro;
No cabelo o valor do metal louro;
No peito a neve em que a alma tenho acesa.

Mas nos olhos mostrou quanto podia,
E fez deles um sol, onde se apura
A luz mais clara que a do claro dia.

Enfim, Senhora, em vossa compostura
Ela a apurar chegou quanto sabia
De ouro, rosas, rubis, neve e luz pura.


Comentário: Neste poema, Camões descreve a ‘senhora’ recorrendo ao uso de alguns elementos da natureza, ‘E com rubis e rosas, neve e ouro’.

Eu cantarei de amor tão docemente,
Por uns termos em si tão concertados,
Que dois mil acidentes namorados
Faça sentir ao peito que não sente.

Farei que amor a todos avivente,
Pintando mil segredos delicados,
Brandas iras, suspiros magoados,
Temerosa ousadia e pena ausente.

Também, Senhora, do desprezo honesto
De vossa vista branda e rigorosa,
Contentar-me-ei dizendo a menor parte.

Porém, pera cantar de vosso gesto
A composição alta e milagrosa
Aqui falta saber,
engenho e arte.

Comentário:  Neste poema, Camões diz que irá cantar ‘de amor tão docemente’ , contentando-se em dizer apenas a menos. Mas que lhe falta o ‘saber’, o ‘engenho’ e a ‘arte’.

Lembranças, que lembrais meu bem passado,
Pera que sinta mais o mal presente,
Deixai-me, se quereis, viver contente,
Não me deixeis morrer em tal estado.

Mas se também de tudo está ordenado
Viver, como se vê, tão descontente,
Venha, se vier, o bem por acidente,
E dê a morte fim a meu cuidado.

Que muito melhor é perder a vida,
Perdendo-se as lembranças da memória,
Pois fazem tanto dano ao pensamento.

Assim que nada perde quem perdida
A esperança traz de sua glória,
Se esta vida há-de ser sempre em tormento.


Comentário: Neste poema, Camões diz que o seu passado foi bem melhor que o presente, preferindo morrer do que viver assim. ‘Venha, se vier, o bem por acidente, e dê a morte fim a meu cuidado. ’

Amor, que o gesto humano na alma escreve,
Vivas faíscas me mostrou um dia,
Donde um puro cristal se derretia
Por entre vivas rosas e alva neve.

A vista, que em si mesma não se atreve,
Por se certificar do que ali via,
Foi convertida em fonte, que fazia
A dor ao sofrimento doce e leve.

Jura Amor que brandura de vontade
Causa o primeiro efeito; o pensamento
Endoudece, se cuida que é verdade.

Olhai como Amor gera, num momento
De lágrimas de honesta piedade,
Lágrimas de imortal contentamento.


Comentário: Neste poema, Camões diz que o amor no inicio é um sentimento muito forte, com grande ‘faíscas’ mas que depois esse sentimento se converte num sofrimento doce e leve .

Transforma-se o amador na coisa amada,
Por virtude do muito imaginar;
Não tenho logo mais que desejar,
Pois em mim tenho a parte desejada.

Se nela está minha alma transformada,
Que mais deseja o corpo de alcançar?
Em si somente pode descansar,
Pois consigo tal alma está ligada.

Mas esta linda e pura semidéia,
Que, como o acidente em seu sujeito,
Assim como a alma minha se conforma,

Está no pensamento como idéia;
O vivo e puro amor de que sou feito,
Como a matéria simples busca a forma.


Comentário: Neste poema, Camões diz que ao se transformar o ‘amador na coisa amada’ não terá mais nada que desejar, nem ele nem o seu corpo, pois tem em si a parte desejada. Vivendo o puro amor de que é feito. ‘O vivo e puro amor de que sou feito’.

Fonte: http://users.isr.ist.utl.pt/~cfb/VdS/camoes.html

quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

Reflexões do poeta

   Estrofe 106 - ( Canto I )

'No mar tanta tormenta, e tanto dano,
Tantas vezes a morte apercebida!
Na terra tanta guerra, tanto engano,
Tanta necessidade avorrecida!
Onde pode acolher-se um fraco humano,
Onde terá segura a curta vida,
Que não se arme, e se indigne o Céu sereno
Contra um bicho da terra tão pequeno?'

Camões reflete sobra a contradição entre aquilo que as pessoas sofrem no mar e, que, em terra são elas próprias a provocar conflitos destruídores. Então, Camões pergunta-se como é que os seres humanos ("bicho da terra tão pequeno") poderão encontrar um abrigo em segurança.

   Estrofe 94 - ( Canto V )

'Trabalha por mostrar Vasco da Gama
Que essas navegações que o mundo canta
Não merecem tamanha glória e fama
Como a sua, que o céu e a terra espanta.
Si; mas aquele Herói, que estima e ama
Com dons, mercês,. favores e honra tanta
A lira Mantuana, faz que soe
Eneias, e a Romana glória voe.'


 

Vasco da Gama tenta provar que as navegações feitas pelos romanos e pelos Gregos não foram de modo algum superiores à sua viagem à Índia.

   Estrofe 95

'Dá a terra lusitana Cipiões,
Césares, Alexandros, e dá Augustos;
Mas não lhe dá contudo aqueles dois
Cuja falta os faz duros e robustos.
Octávio, entre as maiores opressões,
Compunha versos doutos e venustos.
Não dirá Fúlvia certo que é mentira,
Quando a deixava Antônio por Glafira,'

Não dá Portugal heróis como os Romanos mas também não dá aos portugueses os defeitos que estes heróis tinham.

   Estrofe 96 

'Vai César, sojugando toda França,
E as armas não lhe impedem a ciência;
Mas , numa mão a pena e noutra a lança,
Igualava de Cícero a eloquência.
O que de Cipião se sabe e alcança,
É nas comédias grande experiência.
Lia Alexandro a Homero de maneira
Que sempre se lhe sabe à cabeceira.'

César era um grande militar mas era igualmente um grande escritor  caracterizado por trazer sempre numa mão a espada e na outra mão a pena com que escrevia também cipião ficou conhecido como grande militar e grande orador (fazia discursos na praça pública). Acrescenta ainda que o Imperador Alexandro tinha como livro de cabeceira a Odisseia de homero.

                              Síntese:

Ao apresentar os exemplos anteriormente referidos Camões compara-os consigo próprio para mostrar que os soldados portugueses consideram que lhes basta serem bons militares para serem considerados heróis sem necessidade de serem homens cultos. 

   Canto VII

   Estrofes 2, 3, 4, 5, 6 e 8
(2)
'A vós, ó geração de Luso, digo,
Que tão pequena parte sois no inundo;
Não digo ainda no mundo, mas no amigo
Curral de quem governa o céu rotundo;
Vós, a quem não somente algum perigo
Estorva conquistar o povo imundo,
Mas nem cobiça, ou pouca obediência
Da Madre, que nos céus está em essência;'
(3)
'Vós, Portugueses, poucos quanto fortes,
Que o fraco poder vosso não pesais;
Vós, que à custa de vossas várias mortes
A lei da vida eterna dilatais:
Assim do céu deitadas são as sortes,
Que vós, por muito poucos que sejais,
Muito façais na santa Cristandade:
Que tanto, ó Cristo, exaltas a humildade!'~

(4)
'Vede-los Alemães, soberbo gado,
Que por tão largos campos se apascenta,
Do sucessor de Pedro, rebelado,
Novo pastor, e nova seita inventa:
Vede-lo em feias guerras ocupado,
Que ainda com o cego error se não contenta,
Não contra o soberbíssimo Otomano,
Mas por sair do jugo soberano.'
(5)
'Vede-lo duro Inglês, que se nomeia
Rei da velha e santíssima cidade,
Que o torpe Ismaelita senhoreia,
(Quem viu honra tão longe da verdade?)
Entre as Boreais neves se recreia,
Nova maneira faz de Cristandade:
Para os de Cristo tem a espada nua,
Não por tomar a terra que era sua.'
(6)
'Guarda-lhe por entanto um falso Rei
A cidade Hierosólima terrestre,
Enquanto ele não guarda a santa lei
Da cidade Hierosólima celeste.
Pois de ti, Galo indigno, que direi?
Que o nome Cristianíssimo quiseste,
Não para defendê-lo, nem guardá-lo,
Mas para ser contra ele, e derrubá-lo!'

(8)
'Pois que direi daqueles que em delícias,
Que o vil ócio no mundo traz consigo,
Gastam as vidas, logram as divícias,
Esquecidos de seu valor antigo?
Nascem da tirania inimicícias,
Que o povo forte tem de si inimigo:
Contigo, Itália, falo, já submersa
Em Vícios mil, e de ti mesma adversa.'


Camões dirige-se ao Lusitanos por, sendo um povo muito pequeno conseguirem maior fama que alemães, ingleses e italianos pelo facto de os Lusitanos combaterem contar os inimigos da fé cristã enquanto os povos referidos combatiam contra os próprios cristãos.

   Estrofes 78 e 79

(78)
'Um ramo na mão tinha... Mas, ó cego!
Eu, que cometo insano e temerário,
Sem vós, Ninfas do Tejo e do Mondego,
Por caminho tão árduo, longo e vário!
Vosso favor invoco, que navego
Por alto mar, com vento tão contrário,
Que, se não me ajudais, hei grande medo
Que o meu fraco batel se alague cedo.'

(79)
'Olhai que há tanto tempo que, cantando
O vosso Tejo e os vossos Lusitanos,
A fortuna mo traz peregrinando,
Novos trabalhos vendo, e novos danos:
Agora o mar, agora experimentando
Os perigos Mavórcios inumanos,
Qual Canace, que à morte se condena,
Numa mão sempre a espada, e noutra a pena.'

Camões mostra-se desanimado por aquilo que lhe está a acontecer e pede ajuda às ninfas do Tejo e do Mondego para o ajudarem a chegar a um porto seguro pois a sua vida tem sido de dificuldades apesar de ser um militar valente e um escritor excelente. ("Nua mão sempre a espada e noutra a pena")

   Canto X

   Estrofes 145, 146, 147 e 148

(145)
'Nô mais, Musa, nô mais, que a Lira tenho
Destemperada e a voz enrouquecida,
E não do canto, mas de ver que venho
Cantar a gente surda e endurecida.
O favor com que mais se acende o engenho
Não no dá a pátria, não, que está metida
No gosto da cobiça e na rudeza
Düa austera, apagada e vil tristeza.'

(146)
'E não sei por que influxo de Destino
Não tem um ledo orgulho e geral gosto,
Que os ânimos levanta de contino
A ter pera trabalhos ledo o rosto.
Por isso vós, ó Rei, que por divino
Conselho estais no régio sólio posto,
Olhai que sois (e vede as outras gentes)
Senhor só de vassalos excelentes.'

(147)
'Olhai que ledos vão, por várias vias,
Quais rompentes liões e bravos touros,
Dando os corpos a fomes e vigias,
A ferro, a fogo, a setas e pelouros,
A quentes regiões, a plagas frias,
A golpes de Idolátras e de Mouros,
A perigos incógnitos do mundo,
A naufrágios, a pexes, ao profundo.'

(148)

'Por vos servir, a tudo aparelhados;
De vós tão longe, sempre obedientes;
A quaisquer vossos ásperos mandados,
Sem dar reposta, prontos e contentes.
Só com saber que são de vós olhados,
Demónios infernais, negros e ardentes,
Cometerão convosco, e não duvido
Que vencedor vos façam, não vencido.'


   Nestas estrofes, Camões dirige-se a Calíope, antiga musa da poesia, referindo que sente a voz enrroquecida não por cantar os feitos de gente surda e endurecida mas por sentir que Portugal se encontra num estado de corrupção total em que os valores não são respeitados e que o Rei deve fazer alguma coisa para tentar midificar a situação. Acrescenta que há fidalgos honrados que poderão ajudar o Rei a inverter a situação do país, de modo a Portugal alcançar a glória que já teve noutros tempos. 

Comentário: Nas suas reflexões, há louvores e diversas queixas aos comportamentos. Realça-se o valor das honras e da glória alcançadas por mérito próprio, Camões lamenta, por exemplo, que os Portugueses nem sempre saibam aliar a força e a coragem ao saber e à expressividade, destacando a importância das Letras. Critica os povos que não seguem o exemplo do povo português que, com atrevimento, chegou a todos os cantos do Mundo, não deixa de queixar-se de todos aqueles que pretendem alcançar a imortalidade, dizendo-lhes que a cobiça, a ambição e a tirania são honras inúteis que não dão verdadeiro valor ao homem.

Fonte: Aula de Português e manual escolar, dia 7-12-2010

quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

Curriculum Vitae

Currículo (Lat. curriculu, carreira) s. m. série de acontecimentos que marcam cultural e profissionalmente a carreira de um indivíduo; - vitae: relato escrito do conjunto de dados pessoais e profissionais relevantes de um indivíduo, apresentando normalmente para candidatura a um emprego.

  Dever-se-á elaborar um texto cuidado, que integra os seguintes elementos:

 1. Identificação: nome, data de nascimento, nacionalidade, naturalidade, estado civil, residência, telefone, endereço de correio electrónico, número e arquivo do bilhete de indentificação, número do cartão de contribuinte, número da carta de condução.

 2. Formação Académica: referência ao curso/ano de escolaridade e média de avaliação final.

 3. Formação complementar: estágios, cursos de línguas estrangeiras, cursos de informática, acções de formação...

 4. Experiência profissional: referência a locais e/ou instituições onde foram desempenhadas funções.

 5. Situação actual: local/instituição onde desempenha funções ou situação de desemprego.

 6. Trabalhos publicados: artigos, revistas, livros...

 7. Outras informações relevantes: participação em acções de solidariedade, em teatros, em associações sem fins lucrativos...

Nota: Poder-se-á juntar uma carta, manuscrita ou dactilografada, na qual se indique a função pretendida e a fonte de informação que nos levou a apresentar o curriculum vitae (ex.: nome do jornal e data da publicação do anúncio).

Fonte: Aula de Português, dia 2-12-2010 e manual escolar.