sábado, 11 de dezembro de 2010

Lírica Camoniana

De quantas graças tinha, a Natureza
Fez um belo e riquíssimo tesouro,
E com rubis e rosas, neve e ouro,
Formou sublime e angélica beleza.

Pôs na boca os rubis, e na pureza
Do belo rosto as rosas, por quem mouro;
No cabelo o valor do metal louro;
No peito a neve em que a alma tenho acesa.

Mas nos olhos mostrou quanto podia,
E fez deles um sol, onde se apura
A luz mais clara que a do claro dia.

Enfim, Senhora, em vossa compostura
Ela a apurar chegou quanto sabia
De ouro, rosas, rubis, neve e luz pura.


Comentário: Neste poema, Camões descreve a ‘senhora’ recorrendo ao uso de alguns elementos da natureza, ‘E com rubis e rosas, neve e ouro’.

Eu cantarei de amor tão docemente,
Por uns termos em si tão concertados,
Que dois mil acidentes namorados
Faça sentir ao peito que não sente.

Farei que amor a todos avivente,
Pintando mil segredos delicados,
Brandas iras, suspiros magoados,
Temerosa ousadia e pena ausente.

Também, Senhora, do desprezo honesto
De vossa vista branda e rigorosa,
Contentar-me-ei dizendo a menor parte.

Porém, pera cantar de vosso gesto
A composição alta e milagrosa
Aqui falta saber,
engenho e arte.

Comentário:  Neste poema, Camões diz que irá cantar ‘de amor tão docemente’ , contentando-se em dizer apenas a menos. Mas que lhe falta o ‘saber’, o ‘engenho’ e a ‘arte’.

Lembranças, que lembrais meu bem passado,
Pera que sinta mais o mal presente,
Deixai-me, se quereis, viver contente,
Não me deixeis morrer em tal estado.

Mas se também de tudo está ordenado
Viver, como se vê, tão descontente,
Venha, se vier, o bem por acidente,
E dê a morte fim a meu cuidado.

Que muito melhor é perder a vida,
Perdendo-se as lembranças da memória,
Pois fazem tanto dano ao pensamento.

Assim que nada perde quem perdida
A esperança traz de sua glória,
Se esta vida há-de ser sempre em tormento.


Comentário: Neste poema, Camões diz que o seu passado foi bem melhor que o presente, preferindo morrer do que viver assim. ‘Venha, se vier, o bem por acidente, e dê a morte fim a meu cuidado. ’

Amor, que o gesto humano na alma escreve,
Vivas faíscas me mostrou um dia,
Donde um puro cristal se derretia
Por entre vivas rosas e alva neve.

A vista, que em si mesma não se atreve,
Por se certificar do que ali via,
Foi convertida em fonte, que fazia
A dor ao sofrimento doce e leve.

Jura Amor que brandura de vontade
Causa o primeiro efeito; o pensamento
Endoudece, se cuida que é verdade.

Olhai como Amor gera, num momento
De lágrimas de honesta piedade,
Lágrimas de imortal contentamento.


Comentário: Neste poema, Camões diz que o amor no inicio é um sentimento muito forte, com grande ‘faíscas’ mas que depois esse sentimento se converte num sofrimento doce e leve .

Transforma-se o amador na coisa amada,
Por virtude do muito imaginar;
Não tenho logo mais que desejar,
Pois em mim tenho a parte desejada.

Se nela está minha alma transformada,
Que mais deseja o corpo de alcançar?
Em si somente pode descansar,
Pois consigo tal alma está ligada.

Mas esta linda e pura semidéia,
Que, como o acidente em seu sujeito,
Assim como a alma minha se conforma,

Está no pensamento como idéia;
O vivo e puro amor de que sou feito,
Como a matéria simples busca a forma.


Comentário: Neste poema, Camões diz que ao se transformar o ‘amador na coisa amada’ não terá mais nada que desejar, nem ele nem o seu corpo, pois tem em si a parte desejada. Vivendo o puro amor de que é feito. ‘O vivo e puro amor de que sou feito’.

Fonte: http://users.isr.ist.utl.pt/~cfb/VdS/camoes.html

quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

Reflexões do poeta

   Estrofe 106 - ( Canto I )

'No mar tanta tormenta, e tanto dano,
Tantas vezes a morte apercebida!
Na terra tanta guerra, tanto engano,
Tanta necessidade avorrecida!
Onde pode acolher-se um fraco humano,
Onde terá segura a curta vida,
Que não se arme, e se indigne o Céu sereno
Contra um bicho da terra tão pequeno?'

Camões reflete sobra a contradição entre aquilo que as pessoas sofrem no mar e, que, em terra são elas próprias a provocar conflitos destruídores. Então, Camões pergunta-se como é que os seres humanos ("bicho da terra tão pequeno") poderão encontrar um abrigo em segurança.

   Estrofe 94 - ( Canto V )

'Trabalha por mostrar Vasco da Gama
Que essas navegações que o mundo canta
Não merecem tamanha glória e fama
Como a sua, que o céu e a terra espanta.
Si; mas aquele Herói, que estima e ama
Com dons, mercês,. favores e honra tanta
A lira Mantuana, faz que soe
Eneias, e a Romana glória voe.'


 

Vasco da Gama tenta provar que as navegações feitas pelos romanos e pelos Gregos não foram de modo algum superiores à sua viagem à Índia.

   Estrofe 95

'Dá a terra lusitana Cipiões,
Césares, Alexandros, e dá Augustos;
Mas não lhe dá contudo aqueles dois
Cuja falta os faz duros e robustos.
Octávio, entre as maiores opressões,
Compunha versos doutos e venustos.
Não dirá Fúlvia certo que é mentira,
Quando a deixava Antônio por Glafira,'

Não dá Portugal heróis como os Romanos mas também não dá aos portugueses os defeitos que estes heróis tinham.

   Estrofe 96 

'Vai César, sojugando toda França,
E as armas não lhe impedem a ciência;
Mas , numa mão a pena e noutra a lança,
Igualava de Cícero a eloquência.
O que de Cipião se sabe e alcança,
É nas comédias grande experiência.
Lia Alexandro a Homero de maneira
Que sempre se lhe sabe à cabeceira.'

César era um grande militar mas era igualmente um grande escritor  caracterizado por trazer sempre numa mão a espada e na outra mão a pena com que escrevia também cipião ficou conhecido como grande militar e grande orador (fazia discursos na praça pública). Acrescenta ainda que o Imperador Alexandro tinha como livro de cabeceira a Odisseia de homero.

                              Síntese:

Ao apresentar os exemplos anteriormente referidos Camões compara-os consigo próprio para mostrar que os soldados portugueses consideram que lhes basta serem bons militares para serem considerados heróis sem necessidade de serem homens cultos. 

   Canto VII

   Estrofes 2, 3, 4, 5, 6 e 8
(2)
'A vós, ó geração de Luso, digo,
Que tão pequena parte sois no inundo;
Não digo ainda no mundo, mas no amigo
Curral de quem governa o céu rotundo;
Vós, a quem não somente algum perigo
Estorva conquistar o povo imundo,
Mas nem cobiça, ou pouca obediência
Da Madre, que nos céus está em essência;'
(3)
'Vós, Portugueses, poucos quanto fortes,
Que o fraco poder vosso não pesais;
Vós, que à custa de vossas várias mortes
A lei da vida eterna dilatais:
Assim do céu deitadas são as sortes,
Que vós, por muito poucos que sejais,
Muito façais na santa Cristandade:
Que tanto, ó Cristo, exaltas a humildade!'~

(4)
'Vede-los Alemães, soberbo gado,
Que por tão largos campos se apascenta,
Do sucessor de Pedro, rebelado,
Novo pastor, e nova seita inventa:
Vede-lo em feias guerras ocupado,
Que ainda com o cego error se não contenta,
Não contra o soberbíssimo Otomano,
Mas por sair do jugo soberano.'
(5)
'Vede-lo duro Inglês, que se nomeia
Rei da velha e santíssima cidade,
Que o torpe Ismaelita senhoreia,
(Quem viu honra tão longe da verdade?)
Entre as Boreais neves se recreia,
Nova maneira faz de Cristandade:
Para os de Cristo tem a espada nua,
Não por tomar a terra que era sua.'
(6)
'Guarda-lhe por entanto um falso Rei
A cidade Hierosólima terrestre,
Enquanto ele não guarda a santa lei
Da cidade Hierosólima celeste.
Pois de ti, Galo indigno, que direi?
Que o nome Cristianíssimo quiseste,
Não para defendê-lo, nem guardá-lo,
Mas para ser contra ele, e derrubá-lo!'

(8)
'Pois que direi daqueles que em delícias,
Que o vil ócio no mundo traz consigo,
Gastam as vidas, logram as divícias,
Esquecidos de seu valor antigo?
Nascem da tirania inimicícias,
Que o povo forte tem de si inimigo:
Contigo, Itália, falo, já submersa
Em Vícios mil, e de ti mesma adversa.'


Camões dirige-se ao Lusitanos por, sendo um povo muito pequeno conseguirem maior fama que alemães, ingleses e italianos pelo facto de os Lusitanos combaterem contar os inimigos da fé cristã enquanto os povos referidos combatiam contra os próprios cristãos.

   Estrofes 78 e 79

(78)
'Um ramo na mão tinha... Mas, ó cego!
Eu, que cometo insano e temerário,
Sem vós, Ninfas do Tejo e do Mondego,
Por caminho tão árduo, longo e vário!
Vosso favor invoco, que navego
Por alto mar, com vento tão contrário,
Que, se não me ajudais, hei grande medo
Que o meu fraco batel se alague cedo.'

(79)
'Olhai que há tanto tempo que, cantando
O vosso Tejo e os vossos Lusitanos,
A fortuna mo traz peregrinando,
Novos trabalhos vendo, e novos danos:
Agora o mar, agora experimentando
Os perigos Mavórcios inumanos,
Qual Canace, que à morte se condena,
Numa mão sempre a espada, e noutra a pena.'

Camões mostra-se desanimado por aquilo que lhe está a acontecer e pede ajuda às ninfas do Tejo e do Mondego para o ajudarem a chegar a um porto seguro pois a sua vida tem sido de dificuldades apesar de ser um militar valente e um escritor excelente. ("Nua mão sempre a espada e noutra a pena")

   Canto X

   Estrofes 145, 146, 147 e 148

(145)
'Nô mais, Musa, nô mais, que a Lira tenho
Destemperada e a voz enrouquecida,
E não do canto, mas de ver que venho
Cantar a gente surda e endurecida.
O favor com que mais se acende o engenho
Não no dá a pátria, não, que está metida
No gosto da cobiça e na rudeza
Düa austera, apagada e vil tristeza.'

(146)
'E não sei por que influxo de Destino
Não tem um ledo orgulho e geral gosto,
Que os ânimos levanta de contino
A ter pera trabalhos ledo o rosto.
Por isso vós, ó Rei, que por divino
Conselho estais no régio sólio posto,
Olhai que sois (e vede as outras gentes)
Senhor só de vassalos excelentes.'

(147)
'Olhai que ledos vão, por várias vias,
Quais rompentes liões e bravos touros,
Dando os corpos a fomes e vigias,
A ferro, a fogo, a setas e pelouros,
A quentes regiões, a plagas frias,
A golpes de Idolátras e de Mouros,
A perigos incógnitos do mundo,
A naufrágios, a pexes, ao profundo.'

(148)

'Por vos servir, a tudo aparelhados;
De vós tão longe, sempre obedientes;
A quaisquer vossos ásperos mandados,
Sem dar reposta, prontos e contentes.
Só com saber que são de vós olhados,
Demónios infernais, negros e ardentes,
Cometerão convosco, e não duvido
Que vencedor vos façam, não vencido.'


   Nestas estrofes, Camões dirige-se a Calíope, antiga musa da poesia, referindo que sente a voz enrroquecida não por cantar os feitos de gente surda e endurecida mas por sentir que Portugal se encontra num estado de corrupção total em que os valores não são respeitados e que o Rei deve fazer alguma coisa para tentar midificar a situação. Acrescenta que há fidalgos honrados que poderão ajudar o Rei a inverter a situação do país, de modo a Portugal alcançar a glória que já teve noutros tempos. 

Comentário: Nas suas reflexões, há louvores e diversas queixas aos comportamentos. Realça-se o valor das honras e da glória alcançadas por mérito próprio, Camões lamenta, por exemplo, que os Portugueses nem sempre saibam aliar a força e a coragem ao saber e à expressividade, destacando a importância das Letras. Critica os povos que não seguem o exemplo do povo português que, com atrevimento, chegou a todos os cantos do Mundo, não deixa de queixar-se de todos aqueles que pretendem alcançar a imortalidade, dizendo-lhes que a cobiça, a ambição e a tirania são honras inúteis que não dão verdadeiro valor ao homem.

Fonte: Aula de Português e manual escolar, dia 7-12-2010

quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

Curriculum Vitae

Currículo (Lat. curriculu, carreira) s. m. série de acontecimentos que marcam cultural e profissionalmente a carreira de um indivíduo; - vitae: relato escrito do conjunto de dados pessoais e profissionais relevantes de um indivíduo, apresentando normalmente para candidatura a um emprego.

  Dever-se-á elaborar um texto cuidado, que integra os seguintes elementos:

 1. Identificação: nome, data de nascimento, nacionalidade, naturalidade, estado civil, residência, telefone, endereço de correio electrónico, número e arquivo do bilhete de indentificação, número do cartão de contribuinte, número da carta de condução.

 2. Formação Académica: referência ao curso/ano de escolaridade e média de avaliação final.

 3. Formação complementar: estágios, cursos de línguas estrangeiras, cursos de informática, acções de formação...

 4. Experiência profissional: referência a locais e/ou instituições onde foram desempenhadas funções.

 5. Situação actual: local/instituição onde desempenha funções ou situação de desemprego.

 6. Trabalhos publicados: artigos, revistas, livros...

 7. Outras informações relevantes: participação em acções de solidariedade, em teatros, em associações sem fins lucrativos...

Nota: Poder-se-á juntar uma carta, manuscrita ou dactilografada, na qual se indique a função pretendida e a fonte de informação que nos levou a apresentar o curriculum vitae (ex.: nome do jornal e data da publicação do anúncio).

Fonte: Aula de Português, dia 2-12-2010 e manual escolar. 

quinta-feira, 25 de novembro de 2010

A Mitificação do Herói

   N'Os Lusíadas, Camões apresenta os portuguese como se fossem deuses. Isto acontece porque segundo o autor foi necessário os deuses reunirem-se no Olímpo para decidirem se deixariam ou não que os portugueses chegassem à Índia. Nesta reunião, Vénus e Marte eram a favor dos portugueses, mas Baco era contra porque tinha medo que se os portugueses lá chegassem lhe roubassem o dominio do comércio no Oriente. Ao colocar os deuses ao mesmo nível dos portugueses, Camões mitifica-os por fazer deles Deuses. 


    Canto II - Estrofe 31

   Nesta estrofe, Vasco da Gama dirige-se a Deus para Lhe pedir ajuda porque os portos por onde tem passado são inseguros e os humanos não conseguem sozinhos escapar às armadilhas que são feitas contra eles.

"Bem nos mostra a Divina Providência
Destes portos a pouca segurança,
Bem claro temos visto na aparência
Que era enganada a nossa confiança;
Mas pois saber humano nem prudância 
Enganos tão fingidos não alcança,
Ó tu, Guarda divina, tem cuidado
De quem sem ti não pode ser guardado!" 


  
   - Estrofe 32

   Vasco da Gama refere que se Deus tem piedade do povo português os ajude a afastar-se das armadilhas e a encontrarem um porto seguro onde sejam bem recebidos.
'E, se te move tanto a piedade
Desta mísera gente peregrina,
Que, só por tua altíssima bondade,
Da gente a salvas pérfida e malina,
Nalgum porto seguro de verdade
Conduzir-nos já agora determinada,
Ou nos amostra a terra que buscamos,
Pois só por teu serviço navegamos.'

 

   - Estrofe 33

   Vénus ao ouvir o pedido de ajuda de Vasco da Gama dirige-se a Júpiter para o informar de que as suas decisões não estão a ser respeitadas.
'Ouviu-lhe estas palavras piadosas
A fermosa Dione e, comovida,
Dantre as Ninfas se vai, que saüdosas
Ficaram desta súbita partida.
Já penetra as Estrelas luminosas,
Já na terceira Esfera recebida
Avante passa, e lá no sexto Céu,
Pera onde estava o Padre, se moveu'
   - Estrofe 39

   Vénus dirige-se a Júpiter dizendo-lhe que pensava que ele a amasse e que no que a ela dizia respeito estivesse sempre do seu lado. Acrescenta ainda que foi infeliz quando pediu ajuda para os portugueses e que Baco tinha conseguido impôr a sua vontade.

'-"Sempre eu cuidei, ó Padre poderoso,
Que, pera as cousas que eu do peito amasse,
Te achasse brando, afábil e amoroso,
Posto que a algum contrario lhe pecasse;
Mas, pois que contra mi te vejo iroso,
Sem que to merecesse nem te errase,
Faça-se como Baco determina;
Assentarei, enfim, que fui morfina.'


   - Estrofe 44

   Júpiter responde a Vénus dizendo-lhe para não se preocupar porque os portugueses não irão correr qualquer perigo e para ficar descansada porque ela é a pessoa mais importante para ele. Promete-lhe que os feitos dos portugueses no Oriente irão fazer esquecer os dos Romanos e dos Gregos.

'- "Fermosa filha minha, não temais
Perigo algum nos vossos Lusitanos,
Nem que ninguém comigo possa mais
Que esses chorosos olhos soberanos;
Que eu vos prometo, filha,que vejais
Esquecerem-se Gregos e Romanos,
Pelos ilustres feitos que esta gente
Há-de fazer nas partes do Oriente,'

 

   - Estrofe 73

   Os portugueses chegam a Melinde com os navios enfeitados com a bandeira e o estandarte e havia tambem música de tambores e pandeiras para se fazerem anunciar.
   Os portugueses estavam felizes.

'Quando chegava a frota àquela parte
Onde o Reino Melinde já se via,
De toldos adornada e leda de arte
Que bem mostra estimar o Santo dia.
Treme a bandeira, voa o estandarte,
A cor purpúrea ao longe aparecia;
Soam os atambores e pandeiros;
E assi entravam ledos e guerreiros.'


   - Estrofe 74

   Os Melindanos (povo de Melinde) estão na praia para dar as boas vindas aos portugueses e desde logo se verifica que este povo é mais humano e verdadeiro que os anteriormente encontrados. A frota desenbarcou um Mouro para prestar os cumprimentos ao Rei e para verificar se seriam bem recebidos.

'Enche-se toda a praia Melindana
Da gente que vem ver a leda armada,
Gente mais verdadeira e mais humana
Que toda a doutra terra atrás deixada.
Surge diante a frota Lusitana,
Pega no fundo a âncora pesada;
Mandam fora um dos Mouros que tomaram,
Por quem sua vinda ao Rei manifestaram.'

   - Estrofe 75

   O Rei refere que já conhece o valor dos portugueses e convida-os a saírem para se reabastecerem.

'O Rei, que já sabia da nobreza
Que tanto os Portugueses engrandece,
Tomarem o seu porto tanto preza,
Quanto a gente fortíssima merece:
E com verdadeiro ânimo e pureza,
Que os peitos generosos enobrece,
Lhe manda rogar muito que saíssem,
Para que de seus reinos se servissem.'


   - Estrofe 77

   Depois de ter recebido o convite do Rei de Melinde, Vasco da Gama manda-lhe um coral que trazia preparado de Portugal para lhe oferecer.

'Recebe o Capitão alegremente
O mensageiro ledo e seu recado;
E logo manda ao Rei outro presente,
Que de longe trazia aparelhado:
Escarlata purpúrea, cor ardente,
O ramoso coral, fino e prezado,
Que debaixo das águas mole cresce,
E como é fora delas se endurece.'


   - Estrofe 78

   Vasco da Gama envia um outro mensageiro que pudesse negociar as condições do desembarque dos portugueses naquele local e pede desculpas por não o fazer pessoalmente.

'Manda mais um, na prática elegante,
Que co'o Rei nobre as pazes concertasse,
E que de não sair naquele instante
De suas naus em terra o desculpasse.
Partido assim o embaixador prestante,
Como na terra ao Rei se apresentasse,
Com estilo que Palas lhe ensinava,
Estas palavras tais falando orava:'


   - Estrofe 79

O Mensageiro dirige-se ao Rei elugiando-o e dizendo-lhe que estão ali por precisarem de ajuda.

'"Sublime Rei, a quem do Olimpo puro
Foi da suma Justiça concedido
Refrear o soberbo povo duro,
Não menos dele amado, que temido:
Como porto mui forte e mui seguro,
De todo o Oriente conhecido,
Te vimos a buscar, para que achemos
Em ti o remédio certo que queremos.'


   - Estrofe 83

   O Mensageiro diz ao Rei que Vasco da Gama não saí do seu barco não por temer qualquer armadilha da parte dele, mas porque a isso o obrigava o seu Rei, que lhe ordenara da nunca abandonar a frota.

'"E não cuides, ó Rei, que não saísse
O nosso Capitão esclarecido
A ver-te, ou a servir-te, porque visse
Ou suspeitasse em ti peito fingido:
Mas saberás que o fez, porque cumprisse
O regimento, em tudo obedecido,
De seu Rei, que lhe manda que não saia,
Deixando a frota, em nenhum porto ou praia.'


Comentário: N'Os Lusíadas, os heróis são corajosos, ousados e patrióticos, enfrentam e vencem não só as forças da natureza, mas também adversários mesquinhos e maldosos.

Fonte: Aulas de Português, dias 22/29-11-2010.

terça-feira, 16 de novembro de 2010

Narração


      Na estrofe 19, Camões refere que a armada de Vasco da Gama se encontrava já a meio da viagem no Oceano Índico, o mar com algumas ondas estava calmo e o vento empurrava as caravelas na sua viagem a caminho da Índia.

            Nota: A partir da estrofe 20 do Canto I, Camões interrompe a Narração da viagem de Vasco da Gama para falar sobre o Concílio dos Deuses. Este episódio serve a Camões para elogiar os portugueses.
      Ao colocar os Deuses a preocuparem-se com a viagem de Vasco da Gama, por temerem que os portugueses lhes roubem a fama no Oriente, Camões eleva os portugueses ao nível dos próprios Deuses. O Deus que mais temia o poder de Vasco da Gama era Baco (Deus do Vinho e do Comércio) e Marte (Deus da Guerra) e Vénus (Deusa da Beleza e do amor), estavam a favor dos portugueses.



Comentário: A narrativa organiza-se em quatro planos: o da viagem, e o dos deuses, em alternância, ocupam uma posição importante. O plano da História de Portugal está encaixada na viagem. O plano do poeta, em que as considerações pessoais aparecem normalmente nos finais de canto e constituem, de um modo geral, a visão crítica do poeta sobre o seu tempo.
Fonte: Aula de Português, dia 16/11/2010

Dedicatória



        É a parte do poema em que Camões dedica a sua obra a D.Sebastião.
      Com os versos 2,3 e 4, Camões pretende significar que Portugal é um país com muito sol, em que as horas de dia são muitas.
      Na estrofe 8, Camões dirige-se a D.Sebastião e diz-lhe que espera que ele domine os Mouros, que se encontram em África e na Ásia (Índia).

"Vós, poderoso Rei, cujo alto Império
O Sol, logo em nascendo, vê primeiro,
Vê-o também no meio do Hemisfério, 
E quando dece o deixa derradeiro;
Vós, que esperamos jugo e vitupério
Do torpe Ismaelita cavaleiro,
Do Turco Oriental e do Gentio 
Que inda bebe o licor do santo Rio."


      Na estrofe 10, Camões promete ao Rei ("Vereis") ver o seu patriotismo e a sua dedicação e ainda a exaltação do povo português e que o Rei poderá então verificar o que é melhor: se ser Senhor do Mundo, se ser Rei dos Portugueses.

"Vereis amor da pátria, não movido
De prémio vil, mas alto e quási eterno;
Que não é prémio vil ser conhecido
Por um pregão do ninho meu paterno.
Ouvi: vereis o nome engrandecido
Daqueles de quem sois senhor superno,
E julgareis qual é mais excelente,
Se ser do mundo Rei, se de tal gente."

      Na estrofe 11, Camões continuava a dizer ao rei D.Sebastião que os feitos dos portugueses são de tal modo importantes que ultrapassam as aventuras dos heróis antigos, sobretudo porque são feitos verdadeiros enquanto que os outros eram inventados.

 

"Ouvi, que não vereis com vãs façanhas,
Fantásticas, fingidas, mentirosas,
Louvar os vossos, como nas estranhas
Musas, de engrandecer-se desejosas:
As verdadeiras vossas são tamanhas
Que excedem as sonhadas, fabulosas,
Que excedem Rodamonte e o vão Rugeiro
E Orlando, inda que fora verdadeiro."

      Na estrofe 15, Camões dirige-se a D.Sebastião aconselhando-o a tornar-se num Rei exemplar, porque no momento não pode escrever sobre ele, D.Sebastião, não ser ainda reconhecido pelos seus feitos heróicos, dada a sua pouca idade, mas prometia-lhe, no futuro, contar tudo sobre a sua acção grandiosa.

"E, enquanto eu estes canto - e a vós não posso,
Sublime Rei, que não me atrevo a tanto -,
Tomai as rédeas vós do Reino vosso:
Dareis matéria a nunca ouvido canto.
Comecem a sentir o peso grosso
(Que polo mundo todo faça espanto)
De exércitos e feitos singulares,
De África as terras e do Oriente os mares."


Comentário: Na dedicatória, Luís de Camões decide dedicar o seu poema ao rei D. Sebastião, a quem louva pelo que representa para a independência de Portugal e para o aumento do mundo cristão; pela ilustre e cristianíssima ascendência e ainda pelo grandioso Império de que, D.Sebastião, é senhor.
Fonte: Aula de português, 15/16-11-2010 e Manual.

Invocação

       

      Na Invocação, Camões pede ajuda "Dai-me" às Deusas do Tejo "as Tágides".
      Até aquele momento, Camões tinha escrito sonetos e canções, poesia lírica, mas naquela época ele pretendia escrever uma poesia diferente - poesia épica.
      A poesia lírica era simples, humilde e normalmente acompanhada à flauta e onde falava da natureza e do Rio Tejo.
      Camões queria escrever poesia épica que é um tipo de poesia mais elevada, própria para cantar feitos de heróis e por isso devia ser acompanhada de trompete.
      Como esta nova poesia era muito mais exigente, Camões pede ajuda para conseguir escrevê-la.
      Invocar é pedir ajuda por isso, Camões utiliza o vocativo para se dirigir às Tágides e os verbos no imperativo para pedir ajuda. 

Comentário: Na Invocação, em resumo Camões pede ajuda às Tágides, para que este consiga escrever a obra.
Fonte: Aula de português, 9-11-2010

Proposição

      Na proposição, Camões diz que vai cantar os feitos dos portugueses, nomeadamente, os navegadores, os reis e todos os outros heróis, em conclusão vai cantar todo o povo português.
      Os Reis de que camões vai falar são aqueles que dilataram a fé Cristã e o Império/Portugal.
      Os Navegantes escolhidos foram aqueles que, partindo de Portugal/"Ocidental prais lusitana", por mar conquistaram novos territórios, em África, na América e na Ásia. Todos estes marinheiros passaram grandes privações para realizarem com sucesso as suas viagens.
      Os outros heróis portugueses foram aquelas pessoas que por serem escritores, cavaleiros e outros conseguiram, pelos seus feitos, conquistar a imortalidade ("se foram da lei da Morte libertando").
      Na proposição, Camões diz, ainda, que cantará "cantando espalharei" por todo o mundo a fama dos portugueses, com a condição de o talento o ajudar.
      Acrescenta ainda que a fama dos heróis antigos será completamente ultrapassada quando ele divulgar a fama dos heróis portugueses.


Comentário: Na proposição, Camões pretende exaltar 'as armas e os barões assinalados' 'Daqueles que foram dilatando' 'E aqueles que por obras valerosas' 'Se vão da lei da Morte libertando'.
Fonte: Aula de português,9-11-2010

segunda-feira, 8 de novembro de 2010

Estruturas d'OS LUSÍADAS




Os Lusíadas é uma obra épica, escrita por Luís de Camões e relata os grandes feitos portugueses, tendo como tema central a viagem de Vasco da Gama para a Índia.

- Estrutura externa
Quanto à estrutura externa, o poema está organizado em dez cantos (I-X), sendo o seu número de estrofes variável. As estrofes são de oito versos (oitavas) e apresentam o seguinte esquema rimático – abababcc. Os versos têm dez sílabas métricas (decassilábicos).

- Estrutura interna
Quanto à estrutura interna, o poema contém quatro partes: a Proposição (onde o poeta anuncia o que vai cantar), a Invocação (onde o poeta pede auxílio às ninfas do Tejo), a Dedicatória (onde o poeta oferece e dedica o poema a D.Sebastião) e a Narração (onde se relata as acções e acontecimentos).
Da Narração fazem parte três planos narrativos: Plano Fulcral (plano da viagem de Vasco da Gama), Plano Paralelo (intervenção dos Deuses) e Plano Encaixado (História de Portugal). Fazem também parte da narração, episódios que começam e acabam e que se incluem na história maior.

Canto I

          - PROPOSIÇÃO


Na Proposição o poeta expões aquilo de que vai falar, explica o que se propõe fazer. O sujeito (Camões) vai espalhar (acção) por toda a parte (por onde), cantando (como), os feitos dos Homens ilustres (o quê), as memórias dos reis e todos aqueles que se imortalizaram, porque devido aos seus feitos nunca vão cair no esquecimento. O poeta faz ainda um pedido para que se pare de falar dos Gregos e das navegações de outros povos, pois este irá falar de um povo “mais alto”. Nestas estrofes destaca-se ainda, um herói colectivo – os Portugueses.


          - INVOCAÇÃO


Na Invocação o narrador pede ajuda a algo que inventou (as ninfas - tágides do Tejo). Este pede para ter um tom digno do povo e dos feitos de que vai falar. Nestas estrofes, o autor refere ainda as características da epopeia: “elevada, solene, grandiosa, fluente, de grande inspiração” e faz ainda distinção entre poesia épica e poesia lírica, quando se refere à tuba e à flauta, visto que a tuba tem um som mais grave e a flauta um som mais suave e digno deste povo.



         - DEDICATÓRIA


Na Dedicatória o narrador elogia o rei, mostrando-lhe o quão grande é o seu império, desde o Oriente até ao Ocidente. Diz-lhe ainda que através dos Lusíadas vai conhecer o povo português.
Camões faz ainda um pedido, para que o rei olhe um pouco para ele que é tão pequeno.


          - NARRAÇÃO


Do Canto I (estância 19) até ao fim do canto X, vão sendo narrados acontecimentos no passado (desde as origens de Portugal até D.Manuel I), no presente (tempo da acção central do poema) e no futuro(profecias).

Fonte: http://pt.shvoong.com/books/1423175-os-lus%C3%ADadas/  e http://www.slideshare.net/rsn/os-lusadas-a-estrutura

Biografia de Luís Vaz de Camões

Luís Vaz de Camões é considerado o maior poeta Português.
Nasceu em 1524/25, em Coimbra, na capital do Império, pouco se sabe sobre a sua família, pensa-se que  teria ascendência galega e que pertencia à pequena nobreza.                
Diz-se que estudou em Coimbra.
O Padre Manuel Correia que o conheceu pessoalmente, diz que ele nasceu em 1517, filho de Simão Vaz de Camões e Ana de D. Fernando, estudou de 1531 a 1541.
Até 1545 teria ido para Coimbra.
Começou a cantar as “ doces e claras águas de Mondego”, a “florida terra” das margens, a graça feiticeira da menina dos olhos verdes .
Em 1542 a 1545, Camões teria vindo de Coimbra para a corte em Lisboa, rico de humanidades, (ele tinha muita experiência amorosa).
Entre 1545 a 1548, em Ceuta, Luís Vaz de Camões teve de trocar as delícias e dissabores, pelo serviço militar.
Apesar de ter sido um grande poeta, foi também um grande patriota e um grande soldado. Defendeu Portugal tanto nas guerras em África, como na Ásia.
Por volta de 1547-48, partiu para Ceuta depois de ter estado na corte de 1542 e 1543. Em Ceuta (África), perdeu o olho direito, quando lutava a favor de D. João III.