quinta-feira, 6 de janeiro de 2011

Estrutura da Mensagem/Os Lusíadas

Estrutura formal e simbólica de Mensagem

Mensagem é a expressão poética dos mitos – não se trata de uma narrativa sobre os grandes feitos dos portugueses no passado, como em Os Lusíadas, mas sim, de um cantar de um Império de teor espiritual, da construção de uma nação superior às outras, através da ligação ocidente/oriente: não são os factos históricos propriamente ditos sobre os nossos Reis que mais importam; são sim as suas atitudes e o que eles representam, sendo o assunto de Mensagem a essência de Portugal e a sua missão a cumprir. Daí se interpretem as figuras dos Reis nos poemas de Mensagem como heróis mas mais que isso, como símbolos, de diferentes significados.

Esquema das 3 partes:


1ª Parte – BRASÃO: o princípio da nacionalidade (em que fundadores e antepassados criaram a pátria)

   “Ulisses” – símbolo da renovação dos mitos: Ulisses de facto não existiu mas bastou a sua lenda para inspirar. A lenda, ao penetrar na realidade, faz o milagre de tornar a vida “cá em baixo” insignificante. É irrelevante que as figuras de quem o poeta se vai ocupar tenham tido ou não existência histórica! (“Sem existir nos bastou/Por não ter vindo foi vindo/E nos criou.”). O que importa é o que elas representam. Daí serem figuras incorpóreas, que servem para ilustrar o ideal de ser português.

  “D. Dinis” – símbolo da importância da poesia na construção do Mundo: Pessoa vê D. Dinis como o rei capaz de antever o futuro e interpreta isso através das suas acções – ele plantou o pinhal de Leiria, de onde foi retirada a madeira para as caravelas, e falou da “voz da terra ansiando pelo mar”, ou seja, do desejo de que a aventura ultrapasse a mediocridade.

    “D. Sebastião, rei de Portugal” – símbolo da loucura audaciosa e aventureira: o Homem sem a loucura não é nada; é simplesmente uma besta que nasce, procria e morre, sem viver! Ora, D. Sebastião, apesar de ter falhado o empreendimento épico, FOI em frente, e morreu por uma ideia de grandeza, e essa é a ideia que deve persistir, mesmo após sua morte (“Ficou meu ser que houve, não o que há./Minha loucura, outros que a tomem/Com o que nela ia.”)

2ª Parte – MAR PORTUGUÊS: a realização através do mar (em que heróis empossados da grande missão de descobrir foram construtores do grande destino da Nação)

 “O Infante” – símbolo do Homem universal, que realiza o sonho por vontade divina: ele reúne todas as qualidades, virtudes e valores para ser o intermediário entre os homens e Deus (“Deus quer, o homem sonha, a obra nasce.”)

  “Mar Português” – símbolo do sofrimento por que passaram todos os portugueses: a construção de uma supra-nação, de uma Nação mítica implica o sacrifício do povo (“Ó mar salgado, quanto do teu sal/São lágrimas de Portugal!”)

   “O Mostrengo” – símbolo dos obstáculos, dos perigos e dos medos que os portugueses tiveram que enfrentar para realizar o seu sonho: revoltado por alguém usurpar os seus domínios, “O Mostrengo” é uma alegoria do medo, que tenta impedir os portugueses de completarem o seu destino (“Quem é que ousou entrar/Nas minhas cavernas que não desvendo,/Meus tectos negros do fim do mundo?”)

3ª Parte – O ENCOBERTO: a morte ou fim das energias latentes (é o novo ciclo que se anuncia que trará a regeneração e instaurará um novo tempo)

   “O Quinto Império” – símbolo da inquietação necessária ao progresso, assim como o sonho: não se pode ficar sentado à espera que as coisas aconteçam; há que ser ousado, curioso, corajoso e aventureiro; há que estar inquieto e descontente com o que se tem e o que se é! (“Triste de quem vive em casa/Contente com o seu lar/Sem um sonho, no erguer da asa.../Triste de quem é feliz!”) O Quinto Império de Pessoa é a mística certeza do vir a ser pela lição do ter sido, o Portugal-espírito, ente de cultura e esperança, tanto mais forte quanto a hora da decadência a estimula.

  “Nevoeiro” – símbolo da nossa confusão, do estado caótico em que nos encontramos, tanto como um Estado, como emocionalmente, mentalmente, etc.: algo ficou consubstanciado, pois temos o desejo de voltarmos a ser o que éramos (“(Que ânsia distante perto chora?)”), mas não temos os meios (“Nem rei nem lei, nem paz nem guerra...”)
            Fernando Pessoa acreditava que, através dos seus textos, poderia despertar as consciências e fazê-las acreditar e desejar a grandeza outrora vivenciada. Espera poder contribuir parar o reerguer da Pátria, relembrando, nas 1ª e 2ª partes da Mensagem, o passado histórico grandioso e anunciando a vinda do Encoberto (3ª parte), na figura mítica de D.Sebastião, que anunciaria o advento do Quinto Império.
            Preconizava para Portugal a construção de um novo império, espiritual, capaz de elevar os Portugueses ao lugar de destaque que outrora ocuparam a nível mundial. Esta projecção ficar-se-ia a dever a um “poeta ou poetas supremos” que, pela sua genialidade, colocariam Portugal, um país culturalmente evoluído, como líder de todos os outros.
            Na realidade, Fernando Pessoa antevê a possibilidade da supremacia de Portugal, não em termos materiais, como no tempo de Camões, mas em termos espirituais. É nesta nova concepção de Império que assenta o carácter simbólico e mítico que enforma a epopeia pessoa na e que, inevitavelmente, destacará a figura deste super poeta, em detrimento da de Camões.


Definição dos símbolos





Fonte: http://www.prof2000.pt/users/jsafonso/Port/Mensagem.htm e manual escolar, aula dia 6/01/2011

sábado, 11 de dezembro de 2010

Lírica Camoniana

De quantas graças tinha, a Natureza
Fez um belo e riquíssimo tesouro,
E com rubis e rosas, neve e ouro,
Formou sublime e angélica beleza.

Pôs na boca os rubis, e na pureza
Do belo rosto as rosas, por quem mouro;
No cabelo o valor do metal louro;
No peito a neve em que a alma tenho acesa.

Mas nos olhos mostrou quanto podia,
E fez deles um sol, onde se apura
A luz mais clara que a do claro dia.

Enfim, Senhora, em vossa compostura
Ela a apurar chegou quanto sabia
De ouro, rosas, rubis, neve e luz pura.


Comentário: Neste poema, Camões descreve a ‘senhora’ recorrendo ao uso de alguns elementos da natureza, ‘E com rubis e rosas, neve e ouro’.

Eu cantarei de amor tão docemente,
Por uns termos em si tão concertados,
Que dois mil acidentes namorados
Faça sentir ao peito que não sente.

Farei que amor a todos avivente,
Pintando mil segredos delicados,
Brandas iras, suspiros magoados,
Temerosa ousadia e pena ausente.

Também, Senhora, do desprezo honesto
De vossa vista branda e rigorosa,
Contentar-me-ei dizendo a menor parte.

Porém, pera cantar de vosso gesto
A composição alta e milagrosa
Aqui falta saber,
engenho e arte.

Comentário:  Neste poema, Camões diz que irá cantar ‘de amor tão docemente’ , contentando-se em dizer apenas a menos. Mas que lhe falta o ‘saber’, o ‘engenho’ e a ‘arte’.

Lembranças, que lembrais meu bem passado,
Pera que sinta mais o mal presente,
Deixai-me, se quereis, viver contente,
Não me deixeis morrer em tal estado.

Mas se também de tudo está ordenado
Viver, como se vê, tão descontente,
Venha, se vier, o bem por acidente,
E dê a morte fim a meu cuidado.

Que muito melhor é perder a vida,
Perdendo-se as lembranças da memória,
Pois fazem tanto dano ao pensamento.

Assim que nada perde quem perdida
A esperança traz de sua glória,
Se esta vida há-de ser sempre em tormento.


Comentário: Neste poema, Camões diz que o seu passado foi bem melhor que o presente, preferindo morrer do que viver assim. ‘Venha, se vier, o bem por acidente, e dê a morte fim a meu cuidado. ’

Amor, que o gesto humano na alma escreve,
Vivas faíscas me mostrou um dia,
Donde um puro cristal se derretia
Por entre vivas rosas e alva neve.

A vista, que em si mesma não se atreve,
Por se certificar do que ali via,
Foi convertida em fonte, que fazia
A dor ao sofrimento doce e leve.

Jura Amor que brandura de vontade
Causa o primeiro efeito; o pensamento
Endoudece, se cuida que é verdade.

Olhai como Amor gera, num momento
De lágrimas de honesta piedade,
Lágrimas de imortal contentamento.


Comentário: Neste poema, Camões diz que o amor no inicio é um sentimento muito forte, com grande ‘faíscas’ mas que depois esse sentimento se converte num sofrimento doce e leve .

Transforma-se o amador na coisa amada,
Por virtude do muito imaginar;
Não tenho logo mais que desejar,
Pois em mim tenho a parte desejada.

Se nela está minha alma transformada,
Que mais deseja o corpo de alcançar?
Em si somente pode descansar,
Pois consigo tal alma está ligada.

Mas esta linda e pura semidéia,
Que, como o acidente em seu sujeito,
Assim como a alma minha se conforma,

Está no pensamento como idéia;
O vivo e puro amor de que sou feito,
Como a matéria simples busca a forma.


Comentário: Neste poema, Camões diz que ao se transformar o ‘amador na coisa amada’ não terá mais nada que desejar, nem ele nem o seu corpo, pois tem em si a parte desejada. Vivendo o puro amor de que é feito. ‘O vivo e puro amor de que sou feito’.

Fonte: http://users.isr.ist.utl.pt/~cfb/VdS/camoes.html

quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

Reflexões do poeta

   Estrofe 106 - ( Canto I )

'No mar tanta tormenta, e tanto dano,
Tantas vezes a morte apercebida!
Na terra tanta guerra, tanto engano,
Tanta necessidade avorrecida!
Onde pode acolher-se um fraco humano,
Onde terá segura a curta vida,
Que não se arme, e se indigne o Céu sereno
Contra um bicho da terra tão pequeno?'

Camões reflete sobra a contradição entre aquilo que as pessoas sofrem no mar e, que, em terra são elas próprias a provocar conflitos destruídores. Então, Camões pergunta-se como é que os seres humanos ("bicho da terra tão pequeno") poderão encontrar um abrigo em segurança.

   Estrofe 94 - ( Canto V )

'Trabalha por mostrar Vasco da Gama
Que essas navegações que o mundo canta
Não merecem tamanha glória e fama
Como a sua, que o céu e a terra espanta.
Si; mas aquele Herói, que estima e ama
Com dons, mercês,. favores e honra tanta
A lira Mantuana, faz que soe
Eneias, e a Romana glória voe.'


 

Vasco da Gama tenta provar que as navegações feitas pelos romanos e pelos Gregos não foram de modo algum superiores à sua viagem à Índia.

   Estrofe 95

'Dá a terra lusitana Cipiões,
Césares, Alexandros, e dá Augustos;
Mas não lhe dá contudo aqueles dois
Cuja falta os faz duros e robustos.
Octávio, entre as maiores opressões,
Compunha versos doutos e venustos.
Não dirá Fúlvia certo que é mentira,
Quando a deixava Antônio por Glafira,'

Não dá Portugal heróis como os Romanos mas também não dá aos portugueses os defeitos que estes heróis tinham.

   Estrofe 96 

'Vai César, sojugando toda França,
E as armas não lhe impedem a ciência;
Mas , numa mão a pena e noutra a lança,
Igualava de Cícero a eloquência.
O que de Cipião se sabe e alcança,
É nas comédias grande experiência.
Lia Alexandro a Homero de maneira
Que sempre se lhe sabe à cabeceira.'

César era um grande militar mas era igualmente um grande escritor  caracterizado por trazer sempre numa mão a espada e na outra mão a pena com que escrevia também cipião ficou conhecido como grande militar e grande orador (fazia discursos na praça pública). Acrescenta ainda que o Imperador Alexandro tinha como livro de cabeceira a Odisseia de homero.

                              Síntese:

Ao apresentar os exemplos anteriormente referidos Camões compara-os consigo próprio para mostrar que os soldados portugueses consideram que lhes basta serem bons militares para serem considerados heróis sem necessidade de serem homens cultos. 

   Canto VII

   Estrofes 2, 3, 4, 5, 6 e 8
(2)
'A vós, ó geração de Luso, digo,
Que tão pequena parte sois no inundo;
Não digo ainda no mundo, mas no amigo
Curral de quem governa o céu rotundo;
Vós, a quem não somente algum perigo
Estorva conquistar o povo imundo,
Mas nem cobiça, ou pouca obediência
Da Madre, que nos céus está em essência;'
(3)
'Vós, Portugueses, poucos quanto fortes,
Que o fraco poder vosso não pesais;
Vós, que à custa de vossas várias mortes
A lei da vida eterna dilatais:
Assim do céu deitadas são as sortes,
Que vós, por muito poucos que sejais,
Muito façais na santa Cristandade:
Que tanto, ó Cristo, exaltas a humildade!'~

(4)
'Vede-los Alemães, soberbo gado,
Que por tão largos campos se apascenta,
Do sucessor de Pedro, rebelado,
Novo pastor, e nova seita inventa:
Vede-lo em feias guerras ocupado,
Que ainda com o cego error se não contenta,
Não contra o soberbíssimo Otomano,
Mas por sair do jugo soberano.'
(5)
'Vede-lo duro Inglês, que se nomeia
Rei da velha e santíssima cidade,
Que o torpe Ismaelita senhoreia,
(Quem viu honra tão longe da verdade?)
Entre as Boreais neves se recreia,
Nova maneira faz de Cristandade:
Para os de Cristo tem a espada nua,
Não por tomar a terra que era sua.'
(6)
'Guarda-lhe por entanto um falso Rei
A cidade Hierosólima terrestre,
Enquanto ele não guarda a santa lei
Da cidade Hierosólima celeste.
Pois de ti, Galo indigno, que direi?
Que o nome Cristianíssimo quiseste,
Não para defendê-lo, nem guardá-lo,
Mas para ser contra ele, e derrubá-lo!'

(8)
'Pois que direi daqueles que em delícias,
Que o vil ócio no mundo traz consigo,
Gastam as vidas, logram as divícias,
Esquecidos de seu valor antigo?
Nascem da tirania inimicícias,
Que o povo forte tem de si inimigo:
Contigo, Itália, falo, já submersa
Em Vícios mil, e de ti mesma adversa.'


Camões dirige-se ao Lusitanos por, sendo um povo muito pequeno conseguirem maior fama que alemães, ingleses e italianos pelo facto de os Lusitanos combaterem contar os inimigos da fé cristã enquanto os povos referidos combatiam contra os próprios cristãos.

   Estrofes 78 e 79

(78)
'Um ramo na mão tinha... Mas, ó cego!
Eu, que cometo insano e temerário,
Sem vós, Ninfas do Tejo e do Mondego,
Por caminho tão árduo, longo e vário!
Vosso favor invoco, que navego
Por alto mar, com vento tão contrário,
Que, se não me ajudais, hei grande medo
Que o meu fraco batel se alague cedo.'

(79)
'Olhai que há tanto tempo que, cantando
O vosso Tejo e os vossos Lusitanos,
A fortuna mo traz peregrinando,
Novos trabalhos vendo, e novos danos:
Agora o mar, agora experimentando
Os perigos Mavórcios inumanos,
Qual Canace, que à morte se condena,
Numa mão sempre a espada, e noutra a pena.'

Camões mostra-se desanimado por aquilo que lhe está a acontecer e pede ajuda às ninfas do Tejo e do Mondego para o ajudarem a chegar a um porto seguro pois a sua vida tem sido de dificuldades apesar de ser um militar valente e um escritor excelente. ("Nua mão sempre a espada e noutra a pena")

   Canto X

   Estrofes 145, 146, 147 e 148

(145)
'Nô mais, Musa, nô mais, que a Lira tenho
Destemperada e a voz enrouquecida,
E não do canto, mas de ver que venho
Cantar a gente surda e endurecida.
O favor com que mais se acende o engenho
Não no dá a pátria, não, que está metida
No gosto da cobiça e na rudeza
Düa austera, apagada e vil tristeza.'

(146)
'E não sei por que influxo de Destino
Não tem um ledo orgulho e geral gosto,
Que os ânimos levanta de contino
A ter pera trabalhos ledo o rosto.
Por isso vós, ó Rei, que por divino
Conselho estais no régio sólio posto,
Olhai que sois (e vede as outras gentes)
Senhor só de vassalos excelentes.'

(147)
'Olhai que ledos vão, por várias vias,
Quais rompentes liões e bravos touros,
Dando os corpos a fomes e vigias,
A ferro, a fogo, a setas e pelouros,
A quentes regiões, a plagas frias,
A golpes de Idolátras e de Mouros,
A perigos incógnitos do mundo,
A naufrágios, a pexes, ao profundo.'

(148)

'Por vos servir, a tudo aparelhados;
De vós tão longe, sempre obedientes;
A quaisquer vossos ásperos mandados,
Sem dar reposta, prontos e contentes.
Só com saber que são de vós olhados,
Demónios infernais, negros e ardentes,
Cometerão convosco, e não duvido
Que vencedor vos façam, não vencido.'


   Nestas estrofes, Camões dirige-se a Calíope, antiga musa da poesia, referindo que sente a voz enrroquecida não por cantar os feitos de gente surda e endurecida mas por sentir que Portugal se encontra num estado de corrupção total em que os valores não são respeitados e que o Rei deve fazer alguma coisa para tentar midificar a situação. Acrescenta que há fidalgos honrados que poderão ajudar o Rei a inverter a situação do país, de modo a Portugal alcançar a glória que já teve noutros tempos. 

Comentário: Nas suas reflexões, há louvores e diversas queixas aos comportamentos. Realça-se o valor das honras e da glória alcançadas por mérito próprio, Camões lamenta, por exemplo, que os Portugueses nem sempre saibam aliar a força e a coragem ao saber e à expressividade, destacando a importância das Letras. Critica os povos que não seguem o exemplo do povo português que, com atrevimento, chegou a todos os cantos do Mundo, não deixa de queixar-se de todos aqueles que pretendem alcançar a imortalidade, dizendo-lhes que a cobiça, a ambição e a tirania são honras inúteis que não dão verdadeiro valor ao homem.

Fonte: Aula de Português e manual escolar, dia 7-12-2010

quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

Curriculum Vitae

Currículo (Lat. curriculu, carreira) s. m. série de acontecimentos que marcam cultural e profissionalmente a carreira de um indivíduo; - vitae: relato escrito do conjunto de dados pessoais e profissionais relevantes de um indivíduo, apresentando normalmente para candidatura a um emprego.

  Dever-se-á elaborar um texto cuidado, que integra os seguintes elementos:

 1. Identificação: nome, data de nascimento, nacionalidade, naturalidade, estado civil, residência, telefone, endereço de correio electrónico, número e arquivo do bilhete de indentificação, número do cartão de contribuinte, número da carta de condução.

 2. Formação Académica: referência ao curso/ano de escolaridade e média de avaliação final.

 3. Formação complementar: estágios, cursos de línguas estrangeiras, cursos de informática, acções de formação...

 4. Experiência profissional: referência a locais e/ou instituições onde foram desempenhadas funções.

 5. Situação actual: local/instituição onde desempenha funções ou situação de desemprego.

 6. Trabalhos publicados: artigos, revistas, livros...

 7. Outras informações relevantes: participação em acções de solidariedade, em teatros, em associações sem fins lucrativos...

Nota: Poder-se-á juntar uma carta, manuscrita ou dactilografada, na qual se indique a função pretendida e a fonte de informação que nos levou a apresentar o curriculum vitae (ex.: nome do jornal e data da publicação do anúncio).

Fonte: Aula de Português, dia 2-12-2010 e manual escolar. 

quinta-feira, 25 de novembro de 2010

A Mitificação do Herói

   N'Os Lusíadas, Camões apresenta os portuguese como se fossem deuses. Isto acontece porque segundo o autor foi necessário os deuses reunirem-se no Olímpo para decidirem se deixariam ou não que os portugueses chegassem à Índia. Nesta reunião, Vénus e Marte eram a favor dos portugueses, mas Baco era contra porque tinha medo que se os portugueses lá chegassem lhe roubassem o dominio do comércio no Oriente. Ao colocar os deuses ao mesmo nível dos portugueses, Camões mitifica-os por fazer deles Deuses. 


    Canto II - Estrofe 31

   Nesta estrofe, Vasco da Gama dirige-se a Deus para Lhe pedir ajuda porque os portos por onde tem passado são inseguros e os humanos não conseguem sozinhos escapar às armadilhas que são feitas contra eles.

"Bem nos mostra a Divina Providência
Destes portos a pouca segurança,
Bem claro temos visto na aparência
Que era enganada a nossa confiança;
Mas pois saber humano nem prudância 
Enganos tão fingidos não alcança,
Ó tu, Guarda divina, tem cuidado
De quem sem ti não pode ser guardado!" 


  
   - Estrofe 32

   Vasco da Gama refere que se Deus tem piedade do povo português os ajude a afastar-se das armadilhas e a encontrarem um porto seguro onde sejam bem recebidos.
'E, se te move tanto a piedade
Desta mísera gente peregrina,
Que, só por tua altíssima bondade,
Da gente a salvas pérfida e malina,
Nalgum porto seguro de verdade
Conduzir-nos já agora determinada,
Ou nos amostra a terra que buscamos,
Pois só por teu serviço navegamos.'

 

   - Estrofe 33

   Vénus ao ouvir o pedido de ajuda de Vasco da Gama dirige-se a Júpiter para o informar de que as suas decisões não estão a ser respeitadas.
'Ouviu-lhe estas palavras piadosas
A fermosa Dione e, comovida,
Dantre as Ninfas se vai, que saüdosas
Ficaram desta súbita partida.
Já penetra as Estrelas luminosas,
Já na terceira Esfera recebida
Avante passa, e lá no sexto Céu,
Pera onde estava o Padre, se moveu'
   - Estrofe 39

   Vénus dirige-se a Júpiter dizendo-lhe que pensava que ele a amasse e que no que a ela dizia respeito estivesse sempre do seu lado. Acrescenta ainda que foi infeliz quando pediu ajuda para os portugueses e que Baco tinha conseguido impôr a sua vontade.

'-"Sempre eu cuidei, ó Padre poderoso,
Que, pera as cousas que eu do peito amasse,
Te achasse brando, afábil e amoroso,
Posto que a algum contrario lhe pecasse;
Mas, pois que contra mi te vejo iroso,
Sem que to merecesse nem te errase,
Faça-se como Baco determina;
Assentarei, enfim, que fui morfina.'


   - Estrofe 44

   Júpiter responde a Vénus dizendo-lhe para não se preocupar porque os portugueses não irão correr qualquer perigo e para ficar descansada porque ela é a pessoa mais importante para ele. Promete-lhe que os feitos dos portugueses no Oriente irão fazer esquecer os dos Romanos e dos Gregos.

'- "Fermosa filha minha, não temais
Perigo algum nos vossos Lusitanos,
Nem que ninguém comigo possa mais
Que esses chorosos olhos soberanos;
Que eu vos prometo, filha,que vejais
Esquecerem-se Gregos e Romanos,
Pelos ilustres feitos que esta gente
Há-de fazer nas partes do Oriente,'

 

   - Estrofe 73

   Os portugueses chegam a Melinde com os navios enfeitados com a bandeira e o estandarte e havia tambem música de tambores e pandeiras para se fazerem anunciar.
   Os portugueses estavam felizes.

'Quando chegava a frota àquela parte
Onde o Reino Melinde já se via,
De toldos adornada e leda de arte
Que bem mostra estimar o Santo dia.
Treme a bandeira, voa o estandarte,
A cor purpúrea ao longe aparecia;
Soam os atambores e pandeiros;
E assi entravam ledos e guerreiros.'


   - Estrofe 74

   Os Melindanos (povo de Melinde) estão na praia para dar as boas vindas aos portugueses e desde logo se verifica que este povo é mais humano e verdadeiro que os anteriormente encontrados. A frota desenbarcou um Mouro para prestar os cumprimentos ao Rei e para verificar se seriam bem recebidos.

'Enche-se toda a praia Melindana
Da gente que vem ver a leda armada,
Gente mais verdadeira e mais humana
Que toda a doutra terra atrás deixada.
Surge diante a frota Lusitana,
Pega no fundo a âncora pesada;
Mandam fora um dos Mouros que tomaram,
Por quem sua vinda ao Rei manifestaram.'

   - Estrofe 75

   O Rei refere que já conhece o valor dos portugueses e convida-os a saírem para se reabastecerem.

'O Rei, que já sabia da nobreza
Que tanto os Portugueses engrandece,
Tomarem o seu porto tanto preza,
Quanto a gente fortíssima merece:
E com verdadeiro ânimo e pureza,
Que os peitos generosos enobrece,
Lhe manda rogar muito que saíssem,
Para que de seus reinos se servissem.'


   - Estrofe 77

   Depois de ter recebido o convite do Rei de Melinde, Vasco da Gama manda-lhe um coral que trazia preparado de Portugal para lhe oferecer.

'Recebe o Capitão alegremente
O mensageiro ledo e seu recado;
E logo manda ao Rei outro presente,
Que de longe trazia aparelhado:
Escarlata purpúrea, cor ardente,
O ramoso coral, fino e prezado,
Que debaixo das águas mole cresce,
E como é fora delas se endurece.'


   - Estrofe 78

   Vasco da Gama envia um outro mensageiro que pudesse negociar as condições do desembarque dos portugueses naquele local e pede desculpas por não o fazer pessoalmente.

'Manda mais um, na prática elegante,
Que co'o Rei nobre as pazes concertasse,
E que de não sair naquele instante
De suas naus em terra o desculpasse.
Partido assim o embaixador prestante,
Como na terra ao Rei se apresentasse,
Com estilo que Palas lhe ensinava,
Estas palavras tais falando orava:'


   - Estrofe 79

O Mensageiro dirige-se ao Rei elugiando-o e dizendo-lhe que estão ali por precisarem de ajuda.

'"Sublime Rei, a quem do Olimpo puro
Foi da suma Justiça concedido
Refrear o soberbo povo duro,
Não menos dele amado, que temido:
Como porto mui forte e mui seguro,
De todo o Oriente conhecido,
Te vimos a buscar, para que achemos
Em ti o remédio certo que queremos.'


   - Estrofe 83

   O Mensageiro diz ao Rei que Vasco da Gama não saí do seu barco não por temer qualquer armadilha da parte dele, mas porque a isso o obrigava o seu Rei, que lhe ordenara da nunca abandonar a frota.

'"E não cuides, ó Rei, que não saísse
O nosso Capitão esclarecido
A ver-te, ou a servir-te, porque visse
Ou suspeitasse em ti peito fingido:
Mas saberás que o fez, porque cumprisse
O regimento, em tudo obedecido,
De seu Rei, que lhe manda que não saia,
Deixando a frota, em nenhum porto ou praia.'


Comentário: N'Os Lusíadas, os heróis são corajosos, ousados e patrióticos, enfrentam e vencem não só as forças da natureza, mas também adversários mesquinhos e maldosos.

Fonte: Aulas de Português, dias 22/29-11-2010.

terça-feira, 16 de novembro de 2010

Narração


      Na estrofe 19, Camões refere que a armada de Vasco da Gama se encontrava já a meio da viagem no Oceano Índico, o mar com algumas ondas estava calmo e o vento empurrava as caravelas na sua viagem a caminho da Índia.

            Nota: A partir da estrofe 20 do Canto I, Camões interrompe a Narração da viagem de Vasco da Gama para falar sobre o Concílio dos Deuses. Este episódio serve a Camões para elogiar os portugueses.
      Ao colocar os Deuses a preocuparem-se com a viagem de Vasco da Gama, por temerem que os portugueses lhes roubem a fama no Oriente, Camões eleva os portugueses ao nível dos próprios Deuses. O Deus que mais temia o poder de Vasco da Gama era Baco (Deus do Vinho e do Comércio) e Marte (Deus da Guerra) e Vénus (Deusa da Beleza e do amor), estavam a favor dos portugueses.



Comentário: A narrativa organiza-se em quatro planos: o da viagem, e o dos deuses, em alternância, ocupam uma posição importante. O plano da História de Portugal está encaixada na viagem. O plano do poeta, em que as considerações pessoais aparecem normalmente nos finais de canto e constituem, de um modo geral, a visão crítica do poeta sobre o seu tempo.
Fonte: Aula de Português, dia 16/11/2010