quinta-feira, 25 de novembro de 2010

A Mitificação do Herói

   N'Os Lusíadas, Camões apresenta os portuguese como se fossem deuses. Isto acontece porque segundo o autor foi necessário os deuses reunirem-se no Olímpo para decidirem se deixariam ou não que os portugueses chegassem à Índia. Nesta reunião, Vénus e Marte eram a favor dos portugueses, mas Baco era contra porque tinha medo que se os portugueses lá chegassem lhe roubassem o dominio do comércio no Oriente. Ao colocar os deuses ao mesmo nível dos portugueses, Camões mitifica-os por fazer deles Deuses. 


    Canto II - Estrofe 31

   Nesta estrofe, Vasco da Gama dirige-se a Deus para Lhe pedir ajuda porque os portos por onde tem passado são inseguros e os humanos não conseguem sozinhos escapar às armadilhas que são feitas contra eles.

"Bem nos mostra a Divina Providência
Destes portos a pouca segurança,
Bem claro temos visto na aparência
Que era enganada a nossa confiança;
Mas pois saber humano nem prudância 
Enganos tão fingidos não alcança,
Ó tu, Guarda divina, tem cuidado
De quem sem ti não pode ser guardado!" 


  
   - Estrofe 32

   Vasco da Gama refere que se Deus tem piedade do povo português os ajude a afastar-se das armadilhas e a encontrarem um porto seguro onde sejam bem recebidos.
'E, se te move tanto a piedade
Desta mísera gente peregrina,
Que, só por tua altíssima bondade,
Da gente a salvas pérfida e malina,
Nalgum porto seguro de verdade
Conduzir-nos já agora determinada,
Ou nos amostra a terra que buscamos,
Pois só por teu serviço navegamos.'

 

   - Estrofe 33

   Vénus ao ouvir o pedido de ajuda de Vasco da Gama dirige-se a Júpiter para o informar de que as suas decisões não estão a ser respeitadas.
'Ouviu-lhe estas palavras piadosas
A fermosa Dione e, comovida,
Dantre as Ninfas se vai, que saüdosas
Ficaram desta súbita partida.
Já penetra as Estrelas luminosas,
Já na terceira Esfera recebida
Avante passa, e lá no sexto Céu,
Pera onde estava o Padre, se moveu'
   - Estrofe 39

   Vénus dirige-se a Júpiter dizendo-lhe que pensava que ele a amasse e que no que a ela dizia respeito estivesse sempre do seu lado. Acrescenta ainda que foi infeliz quando pediu ajuda para os portugueses e que Baco tinha conseguido impôr a sua vontade.

'-"Sempre eu cuidei, ó Padre poderoso,
Que, pera as cousas que eu do peito amasse,
Te achasse brando, afábil e amoroso,
Posto que a algum contrario lhe pecasse;
Mas, pois que contra mi te vejo iroso,
Sem que to merecesse nem te errase,
Faça-se como Baco determina;
Assentarei, enfim, que fui morfina.'


   - Estrofe 44

   Júpiter responde a Vénus dizendo-lhe para não se preocupar porque os portugueses não irão correr qualquer perigo e para ficar descansada porque ela é a pessoa mais importante para ele. Promete-lhe que os feitos dos portugueses no Oriente irão fazer esquecer os dos Romanos e dos Gregos.

'- "Fermosa filha minha, não temais
Perigo algum nos vossos Lusitanos,
Nem que ninguém comigo possa mais
Que esses chorosos olhos soberanos;
Que eu vos prometo, filha,que vejais
Esquecerem-se Gregos e Romanos,
Pelos ilustres feitos que esta gente
Há-de fazer nas partes do Oriente,'

 

   - Estrofe 73

   Os portugueses chegam a Melinde com os navios enfeitados com a bandeira e o estandarte e havia tambem música de tambores e pandeiras para se fazerem anunciar.
   Os portugueses estavam felizes.

'Quando chegava a frota àquela parte
Onde o Reino Melinde já se via,
De toldos adornada e leda de arte
Que bem mostra estimar o Santo dia.
Treme a bandeira, voa o estandarte,
A cor purpúrea ao longe aparecia;
Soam os atambores e pandeiros;
E assi entravam ledos e guerreiros.'


   - Estrofe 74

   Os Melindanos (povo de Melinde) estão na praia para dar as boas vindas aos portugueses e desde logo se verifica que este povo é mais humano e verdadeiro que os anteriormente encontrados. A frota desenbarcou um Mouro para prestar os cumprimentos ao Rei e para verificar se seriam bem recebidos.

'Enche-se toda a praia Melindana
Da gente que vem ver a leda armada,
Gente mais verdadeira e mais humana
Que toda a doutra terra atrás deixada.
Surge diante a frota Lusitana,
Pega no fundo a âncora pesada;
Mandam fora um dos Mouros que tomaram,
Por quem sua vinda ao Rei manifestaram.'

   - Estrofe 75

   O Rei refere que já conhece o valor dos portugueses e convida-os a saírem para se reabastecerem.

'O Rei, que já sabia da nobreza
Que tanto os Portugueses engrandece,
Tomarem o seu porto tanto preza,
Quanto a gente fortíssima merece:
E com verdadeiro ânimo e pureza,
Que os peitos generosos enobrece,
Lhe manda rogar muito que saíssem,
Para que de seus reinos se servissem.'


   - Estrofe 77

   Depois de ter recebido o convite do Rei de Melinde, Vasco da Gama manda-lhe um coral que trazia preparado de Portugal para lhe oferecer.

'Recebe o Capitão alegremente
O mensageiro ledo e seu recado;
E logo manda ao Rei outro presente,
Que de longe trazia aparelhado:
Escarlata purpúrea, cor ardente,
O ramoso coral, fino e prezado,
Que debaixo das águas mole cresce,
E como é fora delas se endurece.'


   - Estrofe 78

   Vasco da Gama envia um outro mensageiro que pudesse negociar as condições do desembarque dos portugueses naquele local e pede desculpas por não o fazer pessoalmente.

'Manda mais um, na prática elegante,
Que co'o Rei nobre as pazes concertasse,
E que de não sair naquele instante
De suas naus em terra o desculpasse.
Partido assim o embaixador prestante,
Como na terra ao Rei se apresentasse,
Com estilo que Palas lhe ensinava,
Estas palavras tais falando orava:'


   - Estrofe 79

O Mensageiro dirige-se ao Rei elugiando-o e dizendo-lhe que estão ali por precisarem de ajuda.

'"Sublime Rei, a quem do Olimpo puro
Foi da suma Justiça concedido
Refrear o soberbo povo duro,
Não menos dele amado, que temido:
Como porto mui forte e mui seguro,
De todo o Oriente conhecido,
Te vimos a buscar, para que achemos
Em ti o remédio certo que queremos.'


   - Estrofe 83

   O Mensageiro diz ao Rei que Vasco da Gama não saí do seu barco não por temer qualquer armadilha da parte dele, mas porque a isso o obrigava o seu Rei, que lhe ordenara da nunca abandonar a frota.

'"E não cuides, ó Rei, que não saísse
O nosso Capitão esclarecido
A ver-te, ou a servir-te, porque visse
Ou suspeitasse em ti peito fingido:
Mas saberás que o fez, porque cumprisse
O regimento, em tudo obedecido,
De seu Rei, que lhe manda que não saia,
Deixando a frota, em nenhum porto ou praia.'


Comentário: N'Os Lusíadas, os heróis são corajosos, ousados e patrióticos, enfrentam e vencem não só as forças da natureza, mas também adversários mesquinhos e maldosos.

Fonte: Aulas de Português, dias 22/29-11-2010.

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